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Injúria racial: #SomosTodosMaju #SomosTodosTaísAraújo

 

Considerado um crime de injuria racial, podendo ter prisão de até três anos, além de multa. Casos ocorridos com famosos ganham uma notoriedade maior, causando um impacto positivo e aumentando o número de denúncias a fatos parecidos ocorridos por anônimos.

Ofensas raciais, comentários sexistas, divulgação de fotos sem autorização. Apesar de todas as funcionalidades da internet, a ferramenta piora a questão do cyberbullying por conta da velocidade e do alcance da informação.

Segundo a Folha de S. Paulo, quase um terço dos jovens do estado de São Paulo já sofreu ofensas públicas na internet. De acordo com uma pesquisa do Datafolha feita em junho, 28% dos jovens de 16 a 24 anos dizem que já foram ofendidos por alguém na internet. Esse número é maior ainda entre o público de 12 e 15 anos (38%). O levantamento, que foi feito em 175 municípios, ouviu 1036 jovens nessa faixa etária.

De acordo com um estudo da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), publicado pelo IBGE em abril, metade dos brasileiros está conectada à internet. Além disso, um em cada dez residências brasileiras com conexão à internet acessa a rede apenas por meio de celular ou tablet.

 

Caso Maju

 

No início do mês de julho, a página oficial do Jornal Nacional, da TV Globo, recebeu comentários ofensivos num post no Facebook, que continha a foto da jornalista Maria Júlia Coutinho com a previsão do tempo para o dia seguinte. Os comentários tinham relação à cor da pele da repórter, que é conhecida como Maju. O caso ganhou repercussão e fez com que várias pessoas saíssem em defesa da jornalista na campanha #somostodosmaju.

Este tipo de ofensa virtual não acontece apenas no mundo dos famosos e das figuras públicas. Em agosto do ano passado, um caso em Muriaé, na Zona da Mata, também chamou a atenção pelos mesmos motivos. Uma jovem negra de 20 anos recebeu comentários pejorativos em uma foto com seu namorado branco de 18 anos. Os comentários foram classificados como injúria racial e perguntavam coisas do tipo: “onde comprou essa escrava?” e “seu dono?”.

A doutora em psicologia escolar, Luciene Regina Tognetta, explicou à Folha de S. Paulo que há uma diferença que faz com que as ofensas virtuais sejam mais danosas do que as reais. “O bullying é caracterizado pela repetição. Mas na internet ele se espalha imediatamente, nem é preciso acontecer mais de uma vez”. A explicação se aplica aos diversos casos, independente da idade de quem pratica e de quem sofre. Apesar de o cyberbullying acontecer numa esfera virtual, ele reflete preconceitos muito reais.

 

 

Caso Taís Araújo

 

A página de Taís Araújo no Facebook foi alvo de diversos comentários racistas na noite do sábado, 31, mês de outubro, e indignou a atriz.
O alvo dos posts foi uma foto publicada por Taís há cerca de um mês e ela garantiu que não apagará as mensagens. A atriz também afirmou, em mensagem publicada na rede social neste domingo, 1º, que levará o caso à polícia federal. "Não vou me intimidar, tampouco abaixar a cabeça", escreveu ela.

Entre os posts abusivos havia comentários como: "Já voltou da senzala?", "Cabelo de bombril", "Cabelo de esfregão" e "Quem postou a foto desse gorila".
No Twitter, a hashtag #SomosTodosTaísAraújo, em defesa da artista, virou trending topic também do domingo após as ofensas - assim como aconteceu em julho com a jornalista Maria Júlia Coutinho, que também foi vítima de ofensas racistas. "Agradeço aos milhares que vieram dar apoio, denunciaram comigo esses perfis e mostraram ao mundo que qualquer forma de preconceito é cafona e criminosa. E quero que esse episódio sirva de exemplo: sempre que você encontrar qualquer forma de discriminação, denuncie", escreveu Taís.

 

Confira o desabafo completo de Taís Araújo:

"É muito chato, em 2015, ainda ter que falar sobre isso, mas não podemos nos calar: na última noite, recebi uma série de ataques racistas na minha página. Absolutamente tudo está registrado e será enviado à polícia federal. E eu não vou apagar nenhum desses comentários. Faço questão que todos sintam o mesmo que senti: a vergonha de ainda ter gente covarde e pequena nesse país, além do sentimento de pena dessa gente tão pobre de espírito. Não vou me intimidar, tampouco abaixar a cabeça. Sigo o que sei fazer de melhor: trabalhar. Se a minha imagem ou a imagem da minha família te incomoda, o problema é exclusivamente seu!

Por ironia do destino ou não, isso ocorreu no momento em que eu estava no palco do Teatro Faap com O Topo da Montanha, um texto sobre ninguém menos que Martin Luther King e que fala justamente sobre afeto, tolerância e igualdade. Aproveito pra convidar você, pequeno covarde, a ver e ouvir o que temos a dizer. Acho que você está mesmo precisando ouvir algumas coisinhas sobre amor.

Agradeço aos milhares que vieram dar apoio, denunciaram comigo esses perfis e mostraram ao mundo que qualquer forma de preconceito é cafona e criminosa. E quero que esse episódio sirva de exemplo: sempre que você encontrar qualquer forma de discriminação, denuncie. Não se cale, mostre que você não tem vergonha de ser o que é e continue incomodando os covardes. Só assim vamos construir um Brasil mais civilizado. A minha única resposta pra isso é o amor!"

 

Injúria Racial: #SomosTodosShirlei #SomosTodosAlmir

 

Estudante de jornalismo Shirlei Mare Freitas relata ofensas racistas sofrida no facebook

 

Muito distante dos holofotes de uma atriz global ou de uma jornalista do Jornal Nacional estão incontáveis negros que sofrem com o racismo diariamente no Brasil. Para esses anônimos não há campanhas, protestos, comoção pública e nem hashtags elaboradas. Pior de tudo, não há interesse das autoridades em repreender os atos de discriminação via internet que podem ser percebidos facilmente num ambiente de rede social.

A constatação é clara: “não há justiça”. Pelo menos é o que diz a estudante de jornalismo Shirlei Mare Freitas, de 25 anos, que é enfática ao falar sobre como é tratada a maioria dos casos de racismo virtual no Brasil. Ela foi ofendida após comentar, em forma de brincadeira, numa publicação de um amigo no facebook. Os colegas deste amigo não gostaram da brincadeira e a ofenderam de forma racista, com piadas que ridicularizavam sua cor de pele.

Além de sofrer os insultos, Shirlei também reclama da conivência de alguns que acabam se omitindo. No caso em questão, seu amigo, por uma questão de convívio social e profissional com os criminosos, pediu para que ela não fizesse nenhuma denúncia e removeu a publicação, consequentemente apagando as provas do crime. “Só quem morreu na fogueira sabe o que é ser carvão” parafraseia a canção ‘Pagu’, de Rita Lee e Zélia Duncan. Ela completa: “Ele (o amigo) foi omisso e negligente”, relatou magoada.

A situação escancara um fato: as pessoas ficam mais corajosas atrás de um computador, muitas vezes protegidas pelo anonimato de um perfil fake. “A internet é um facilitador para essas situações. Pessoalmente seria racismo da mesma forma, mas não com essa magnitude. Na internet você faz o quer, ofende quem quiser e não acontece nada, além disso, todo mundo vê”, diz Shirlei, que completa dizendo que vê casos de preconceito racial o tempo todo nas redes sociais, citando uma foto de uma criança negra, com a legenda “vende-se filhote de macaco” como uma das que mais a chocou.

Todos esses obstáculos fazem com que a estudante de jornalismo tenha uma postura combativa e de firmes opiniões, mas ela ressalta que sua luta não é virtual. “Minha militância é no dia-dia”. Em forma de recado, ela diz o que outras vítimas de racismo devem fazer: “A minha vontade é externar tudo com violência, mas simplesmente denuncie e delete, pronto”. Ainda lembra que a sociedade atual está em evolução, com ascensão da cultura e dos direitos dos negros. Diante de tudo isso, Shirlei Mare Freitas não escondeu, durante toda a entrevista, o quanto o tema abordado lhe afeta, porém, para todos que a ofendem e ainda insistem em espalhar o ódio ao negro pela internet ou no dia-dia, ela tem algo a dizer: “Vocês vão ter que nos engolir”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Vencedor do concurso Garoto da Favela do mês de junho, Almir Lima, de 17 anos, também é alvo de comentários racistas na internet

 

Morador da Praça do Samba, na comunidade da Alvorada, o jovem Almir Lima, ao ser convencido pela amiga, Karen Almeida, vencedora do concurso Garota da Favela no mês de maio, se inscreveu no concurso de beleza promovido pelo jornal Voz da Comunidade, que tem seu vencedor definido pela quantidade de curtidas no facebook que cada foto recebe. No dia seguinte em que confirmou a participação, surgiu o primeiro comentário que incomodou o estudante. “Mesmo sendo diferente, vou votar em você”.

Essa foi apenas a primeira das muitas manifestações ofensivas ao rapaz. “Eu me perguntei: “diferente por que se eu tenho dois braços e duas pernas?” A única coisa que me diferencia deles é a quantidade de melanina, eu me revoltei”. Almir admite ter sentido muita raiva misturada com uma sensação de injustiça. “Não tive lágrimas, pessoas desse tipo não merecem que eu derrame uma gota”.

As ofensas ao rapaz se mantiveram durante toda a semana em que a competição se estendeu. Em outro comentário em sua foto, uma pessoa exalta a coragem do estudante em participar do torneio. “Eu acho que na cabeça deles, eu deveria ter vergonha de sair de casa por ser negro e quando eu tomo a decisão de ir à rua, sou um corajoso”, desabafou.

A história começou a mudar para Almir quando sua amiga Laiza Rodrigues, militante de um movimento negro, resolveu ajuda-lo. Comovida com tudo o que o estudante vinha passando, ela entrou em contato com amigos que também fazem parte da militância. Juntando forças, o movimento realizou uma espécie de mutirão de curtidas, que renderam ao rapaz o premio de Garoto da Favela do mês de junho com cerca de nove mil curtidas.

Entretanto, mesmo após sagrar-se vencedor, as ofensas não cessaram. Muitos chegaram a questionar a legitimidade do resultado, fazendo com que a produção do concurso de beleza conferisse se as denuncias tinham alguma procedência. Mas nenhum dispositivo de hacker foi detectado, apenas o velho racismo que continuou. O auge do preconceito foi de uma pessoa que não gostou da participação da comunidade negra na votação, e chegou a comentar: “Você só ganhou por que foi no zoológico chamar vários gorilas para votar em você”.

As ofensas sofridas por Almir Lima nas redes sociais e sua volta por cima simbolizam a vitória do oprimido sobre os opressores, o estudante faz questão de dedicar a vitória à comunidade negra que o apoiou, e disse que superação define sua trajetória. “Meu maior prêmio não foi um dia no salão de beleza, nem sair no jornal, meu maior prêmio foi ter superado essa opressão da melhor forma”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Outdoors alertam sobre injúria racial na internet

Transformar comentários racistas no Facebook em outdoors instalados nas regiões onde vivem os ofensores. Essa é a proposta da ONG Criola, organização da sociedade civil que atua pela defesa e promoção de direitos das mulheres negras, na campanha “Racismo virtual - as consequências são reais”.

Lançada nesta semana exibindo posts como “Se tomasse banho direito não ficaria encardida” e “Já é preta, cm nome de MaJu, dps reclama do preconceito contra macumba”, a estratégia da ação, que preserva a identidade do agressor, é tirar o racismo da internet e expô-lo na rua para que a população conscientize-se dos danos desses atos.

“Não é possível ignorar esses ataques e achar que não haverá consequências para os ofensores”, diz Jurema Werneck, fundadora da ONG Criola. “Racismo é crime e, no caso de insultos na internet, independentemente de terem sido direcionados a uma pessoa conhecida ou não, os agressores infringiram a lei e, pior, a honra e dignidade das mulheres negras. A campanha visa expor essas situações e fazer com que a sociedade se posicione contra esse retrocesso.”

A ONG SaferNet Brasil recebeu, em seus nove anos de atuação, 469.942 denúncias anônimas de racismo envolvendo 68.940 páginas (URLs) distintas, das quais 14.785 foram removidas. A Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos, que é a única na América Latina e Caribe, recebe uma média de 2.500 denúncias por dia envolvendo páginas contendo evidências de crimes de racismo, pornografia infantil ou pedofilia; neonazismo, intolerância religiosa, apologia e incitação a crimes contra a vida; homofobia e maus tratos contra os animais.

"Se a internet é um espelho da sociedade, está difícil encarar nossa própria imagem de frente".

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